A conversão de florestas plantadas para áreas de agricultura na região Sul não é um fenômeno recente. Já faz alguns anos que a Forest2Market do Brasil observa, principalmente, pequenos e médios produtores desistindo da silvicultura para migrar (ou voltar) para a agricultura.
Diversas razões explicam tal fenômeno. A mais clara delas é simples e se chama vocação do solo. Em 2017, durante o debate do II Seminário sobre o Mercado Florestal Paranaense promovido pela Forest2Market do Brasil na região de Guarapuava, Paraná, um pequeno produtor fez a seguinte pergunta: “Há alguns anos me convenceram a substituir minha lavoura pelo eucalipto. Eu quero saber o que faço hoje com esse plantio, que está com 04 anos e não dá me dá retorno algum”. A resposta, dada na época pelo Diretor da F2M, permanece a mesma: não se planta eucalipto (ou qualquer outra cultura florestal) em área agrícola. Com raras exceções seria viável pensar em substituir uma cultura valiosa por outra de menor valor.
O que se observa é que diversos produtores optaram pela conversão em um momento em que o preço da madeira era maior e mais atrativo, sem ter a plena consciência de que estava embarcando em um negócio completamente diferente e de longo prazo, cujo retorno demora para acontecer.
Outra razão para a conversão é o preço da madeira. Invariavelmente, tais produtores foram motivados a plantar pinus ou eucalipto para vender toras de processo (até 18 cm) para alguma grande empresa da região. A Forest2Market do Brasil monitora o preço real de transações de madeira no país desde 2014 e sabe que, especialmente para a madeira fina, a evolução do preço pago pelo produto entregue nos últimos anos não é animadora.
A figura 01 apresenta a evolução do preço da madeira fina de pinus (8-18 cm) entregue no estado do Paraná entre janeiro de 2015 e janeiro de 2018, comparada à evolução percentual da inflação (IPCA). É possível perceber que de janeiro de 2016 para janeiro de 2018 o preço pago caiu mais de 10%.
Figura 01. Evolução do preço médio da madeira de 8-18 cm de pinus entregue no Paraná x inflação
Porém, recentemente a Forest2Market do Brasil vem observando que esse fenômeno tem se acentuado em determinadas regiões do estado do Paraná. Em estudo de mercado realizado recentemente, na região central do Estado (Guarapuava e arredores), foram identificados diversos pequenos produtores que estão desistindo da silvicultura. Da mesma forma, diversas empresas consumidoras de madeira confessaram à Forest2Market do Brasil que a conversão de áreas é um fenômeno que as preocupa.
O efeito da conversão deve ser sentido em breve. Em uma região como Guarapuava, onde não existem mais grandes ativos disponíveis para abastecer o mercado e poucas são empresas autossustentáveis em termos de abastecimento de madeira, a saída de pequenos produtores deve aquecer a demanda por toras e, consequentemente, aumentar seu preço. Boa notícia para as TIMOs e produtores locais, má notícia para as empresas consumidoras e madeira.