O setor florestal de Minas Gerais possui posição de destaque no cenário nacional como sendo o maior detentor de plantio de florestas do país. Segundo os dados mais recentes da Indústria Brasileiras de Árvores (IBÁ), Minas Gerais possui 1,39 milhões de hectares de florestas de eucalipto e 37,6 mil hectares de florestas de pinus.
Porém, o setor florestal mineiro não se destaca apenas pela grandiosidade de seus números, mas pela diversidade de segmentos consumidores de madeira, com destaque aos segmentos que a utilizam para geração de algum tipo de energia (em especial as usinas siderúrgicas produtoras de aço, ferro-gusa e ferroligas). Segundo o diretor da Forest2Market do Brasil, Marcelo Schmid, “o setor florestal mineiro é complexo, diverso e muito rico. Compreendê-lo e entender suas perspectivas é um desafio que só pode ser vencido com o acompanhamento periódico do mercado e muito esforço”.
A Forest2Market do Brasil têm trabalhado de forma intensa no estado de Minas, seja pela coleta de preços de transações reais de madeira, iniciada há dois anos, quanto pelo desenvolvimento de estudos completos de recursos florestais, consumo e projeções futuras de balanço de mercado.
Além das siderúrgicas, o estado possui empresas de base florestal, como celulose, placas de madeira e madeira sólida, além de empresas de outros setores que também consomem madeira, como indústrias alimentícias, cerâmicas, cimentos, entre outros. Embora historicamente o grande propulsor do setor florestal mineiro tenha sido a siderurgia, os demais segmentos representam uma fatia considerável (mais de 30%) e crescente do consumo de matéria-prima florestal no estado.
Histórico recente
Embora detenha a maior área de florestas plantadas no Brasil, a área de plantio do estado de Minas Gerais vem se retraindo nos últimos 05 anos. No ano de 2012 a área de plantio de eucalipto atingiu seu auge: 1,44 milhões de hectares. Porém, em 2015, essa área sofreu uma redução de 3,05%, conforme demonstra a figura 01. Paralelamente, percebe-se que a quantidade de floresta plantada vem sendo reduzida ano após ano.
Figura 01. Evolução da área plantada x plantio anual de eucalipto no estado de Minas Gerais (em milhões de hectares)
Fonte: Ibá e AMS
Embora a redução da área de plantio de eucalipto – principal cultura florestal do estado – seja ainda tímida, ela é representativa dos problemas que têm sido enfrentados pelo setor florestal do estado nos últimos anos, entre os quais se destacam:
- Crise da indústria siderúrgica nacional
O desenvolvimento do setor siderúrgico é parte da própria história de Minas Gerais e responsável pelo expressivo avanço econômico do estado em épocas passadas. Porém, desde 2015 a situação do setor é alarmante e, segundo Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil (IABr), este é “o pior momento da siderurgia nacional”. O mercado externo de aço pode ser uma solução de curto prazo para evitar o agravamento da crise no setor, mas, por uma série de razões, as indústrias brasileiras não se mostram competitivas diante de outros grandes players do mercado mundial, em especial a China, responsável pela produção de praticamente metade de todo aço do mundo.
A crise do setor da siderurgia afeta, naturalmente, toda a cadeia produtiva vinculada. O setor florestal mineiro, cujo principal “cliente” é a siderurgia, foi severamente afetado nos últimos anos. A figura 02 apresenta a participação do estado na produção nacional de diferentes produtos da silvicultura (eucalipto), onde se percebe a forte relação existente entre o setor florestal mineiro e a siderurgia.
Diante da crise, diversas usinas siderúrgicas no estado de Minas Gerais reduziram produção e investimentos em manutenção e algumas até mesmo encerraram suas atividades. Embora atualmente existam alguns tímidos indícios de melhoria na economia brasileira, segundo o IABr, o mercado interno do aço não irá retomar seus índices de crescimento neste ano. Segundo dados do Instituto, de janeiro a junho desse ano, a produção de aço brasileira apresentou um crescimento de 12,4%, porém esse crescimento foi canalizado basicamente para as exportações, que subiram 9,2%.
O Brasil enfrenta uma grave crise econômica desde meados de 2014 e é sabido que determinados setores de mercado são mais suscetíveis aos impactos da mesma. O setor siderúrgico é definitivamente um deles, uma vez que o consumo de aço e ferro está diretamente ligado ao desempenho econômico do país.
Figura 02. Participação do estado de Minas Gerais na produção nacional da silvicultura em 2015 (eucalipto)
Fonte: IBGE
A figura 03 apresenta a evolução do consumo de carvão vegetal no Estado, entre 2006 e 2015, onde, em decorrência da crise, percebe-se uma queda acumulada de aproximadamente 30% neste período com uma acentuada tendência de queda nos últimos três anos.
Figura 03. Evolução do consumo de carvão vegetal no estado de Minas Gerais (em mil m.d.c)
Fonte: Sindifer
A consequência da redução do consumo é o encerramento de atividades industriais e, em um primeiro momento, a ociosidade de plantios. Em um segundo momento, o estoque de madeira disponível é reduzido, uma vez que – diante da crise - tais áreas não serão reformadas (novos plantios) ou conduzidas (condução de rebrota).
- Condições pluviométricas do estado e perda de produtividade das florestas
Nos últimos anos a condição pluviométrica do estado de Minas Gerais afetou a produtividade dos plantios florestais. A figura 03 apresenta a precipitação acumulada anual na estação de Grã-Mogol, região norte do estado, entre 2006 e 2015. Observa-se que existe tendência de queda da precipitação anual neste período de 10 anos, no qual a precipitação média foi de 864 mm. Por outro lado, analisando dados dos dez anos anteriores a este período observa-se que a precipitação média foi mais favorável (998 mm).
Figura 03. Precipitação anual acumulada na estação de Grã-Mogol, Minas Gerais (em mm)
Fonte: Agência Nacional das Águas (ANA)
Devido a tais condições, a Forest2Market do Brasil identificou em análise de dados de diferentes produtores florestais do estado que a produtividade média das florestas vem caindo significativamente, sendo que algumas empresas relataram incrementos médios anuais de plantios de até dez anos inferiores a 27 m3/ha/ano, em talhões onde, outrora, o incremento foi próximo a 35 m3/ha/ano.
A seca dos últimos anos levou a mortandade de talhões inteiros de diversas empresas. Estima-se que cerca de 170 mil hectares de florestas morreram no estado devido à seca, aumentando também a probabilidade de ocorrência de incêndios florestais, conforme observado em campo.
- Pragas e doenças
Além da redução de produtividade gerada pela queda da precipitação alguns produtores locais têm sofrido problemas em seus plantios ocasionados por pragas e doenças, como o psilídeo-de-concha, percevejo bronzeado e a lagarta desfolhadora.Apesar de serem pragas conhecidas o controle tem sido dificultado pela falta de ação coletiva, ou seja, em muitas situações o ataque tem origem em plantios vizinhos praticamente abandonados, que se tornaram mais suscetíveis à praga.
Os danos observados normalmente são a perda de produtividade e defeitos na formação do fuste. Dependendo da intensidade, se não combatidas rapidamente, tais pragas podem ocasionar até mesmo a morte das árvores atacadas.
Perspectivas e tendências
Diante do atual cenário negativo do setor florestal mineiro, o que se pode esperar do futuro?
Inicialmente, destaca-se que embora ainda muito longe dos momentos áureos da década passada, a siderurgia mineira apresentou nos últimos dois anos alguns sinais de recuperação. Essa recuperação pode ser evidenciada tanto pelos números da produção de aço quanto pelo preço da madeira no estado, monitorado mensalmente pela Forest2Market do Brasil.
Entre dezembro de 2016 e maio de 2017 a média ponderada do preço da madeira de eucalipto entregue em diversas unidades consumidoras do estado subiu em 9%, conforme apresenta a figura 05.
Figura 05. Evolução da média ponderada do custo de eucalipto entregue em Minas Gerais (R$/t)
Fonte: Forest2Market do Brasil - Benchmark mensal de transações reais de mercado
Soma-se à recuperação do segmento de siderurgia um fato que tem movimentado bastante o mercado da região norte de Minas Gerais nos últimos meses: a venda de madeira para abastecimento de fábricas de celulose na Bahia e Espírito Santo. Entre 2015 e 2016, duas fábricas de celulose adquiriram em média 2,35 milhões de toneladas de madeira por ano no estado, o que representa cerca de 6% da produção. A tendência para os próximos anos é que esse consumo aumente, uma vez que o suprimento de madeira nos estados de origem de tais empresas é deficitário e existe a perspectiva de entrada de uma terceira fábrica de celulose neste grupo.
Do lado do estoque, como o prolongamento da crise levou muitas empresas consumidoras de madeira à retração de suas atividades, diversos produtores florestais abandonaram seus planos de expansão e, além disso, deixaram de replantar ou até mesmo conduzir a rebrota de suas florestas, temendo não haver cliente para consumir seu produto no futuro.
A redução da área de plantio, somada à redução de replantio/rebrota de áreas existentes e redução da produtividade média das florestas, quando confrontada com a recuperação do setor siderúrgico e aumento da demanda de madeira no estado, leva a uma conclusão: haverá falta de madeira em médio prazo em Minas Gerais. A Forest2Market do Brasil está desenvolvendo um estudo detalhado do mercado mineiro para entender todas as variáveis que podem levar a esse cenário e determinar quando o mesmo deverá acontecer. Informações preliminares coletadas pela empresa apontam que tal déficit poderá ser sentido já em 2019, mas que a situação deverá ser agravada a partir de 2022.
O possível “apagão” florestal de Minas Gerais será mais um desafio a ser enfrentado pelo estado. Porém, a exemplo de situações similares ocorridas em outras regiões, a falta de madeira terá impacto direto no valor e retorno da atividade de silvicultura, gerando oportunidades para produtores e investidores florestais. Aqueles mais corajosos que acreditam que o “apagão” irá se confirmar já buscam oportunidades de investimentos no mercado, uma vez que o momento para adquirir terras e florestas no estado de Minas Gerais é propício. Por enquanto...