Segundo um boletim recentemente publicado pela Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), associação responsável pela representação institucional da cadeia produtiva de árvores plantadas no Brasil, durante o primeiro bimestre de 2017 o Brasil exportou 2,3 milhões de toneladas de celulose, representando uma alta de 3,4% em relação ao mesmo período de 2016, quando o volume exportado foi de 2,2 milhões. Porém, paradoxalmente, a receita das exportações neste período foi de 971 milhões de dólares, contra 1.068 milhões de dólares de receita no mesmo período de 2016 (figura 01).
Fonte: Ibá e Forest2Market do Brasil
Figura 01. Exportação de celulose pelo Brasil no primeiro bimestre de 2016 e 2017: volume x receita.
Em outros segmentos, como por exemplo, painéis de madeira, o aumento do volume exportado (40,3%) foi acompanhado de um expressivo crescimento da receita (21,9%). No segmento de papéis, da mesma forma, nos dois primeiros meses de 2017 houve aumento de 6% em relação ao volume exportado no mesmo período de 2016 e um acréscimo na receita de 0,3%.
O fenômeno observado na exportação de celulose brasileira do primeiro bimestre de 2017 (acréscimo no volume e redução na receita) representa a manutenção da tendência do ano passado, acompanhada atentamente pela Forest2Market do Brasil. A figura 02 apresenta a evolução das exportações de celulose brasileira nos últimos 10 anos, considerando volume e receita. Embora o volume seja crescente, com alguns picos de crescimento entre um ano e outro, se observa que a receita nem sempre acompanha a mesma tendência.
Fonte: Ibá e Forest2Market do Brasil
Figura 02. Exportação de celulose pelo Brasil nos últimos dez anos: volume x receita
Analisando o gráfico mais detalhadamente, se destacam três anos nos quais as a receita perdeu o compasso do volume exportado: 2009, 2012 e, de forma menos acentuada, 2016. A razão para tal queda pode ser visualizada quando adicionamos ao gráfico o preço da celulose. A figura 03 apresenta a mesma evolução das exportações de celulose brasileira nos últimos 10 anos, porém considerando volume, receita e um indicativo de preço. O indicativo escolhido para essa análise foi o preço médio anual da celulose de fibra curta, principal tipo de celulose exportada pelo Brasil, pago pelo mercado europeu, principal mercado consumidor da celulose brasileira.
Fonte: Ibá, FOEX e Forest2Market do Brasil
Figura 03. Exportação de celulose pelo Brasil nos últimos dez anos: volume x receita x preço médio da celulose de fibra curta para a Europa
Em 2009 a crise econômica mundial afetou severamente vários mercados, o que motivou a queda sensível do preço, mesmo com a exportação crescendo significativamente em relação a 2008, houve queda significativa de receita. Entre os anos de 2009 e 2012 observou-se uma quase estagnação no volume exportado de celulose (taxa de crescimento de apenas 3,8% nesses 04 anos). Mesmo estando o volume exportado estagnado, em 2010 a receita da exportação teve um expressivo salto de 43%, graças à evolução do preço médio da celulose, de 49%. A manutenção da estagnação, porém, combinada à baixa do preço médio, levou à redução na receita em 2012.
Já no ano de 2014 uma nova queda do preço médio da celulose foi observada, queda essa compensada com um aumento de 13,7% no volume exportado e aumento de 3,4% na receita. Finalmente, em 2016, o preço médio da celulose no mercado europeu sofreu queda ainda mais severa, mantendo a tendência de queda de preços de outros mercados consumidores da celulose brasileira, como a China. Neste ano, a exemplo de 2014, o setor de celulose teve que se esforçar para tentar compensar o prejuízo pela queda no preço da celulose com um grande salto na exportação: em 2016 o país exportou 18,1% a mais do que 2015, porém, o aumento do volume não foi capaz de compensar a queda no preço, uma vez que a receita foi 0,5% inferior ao ano anterior.
Os dados analisados refletem o recente descompasso do preço da celulose no mercado internacional e a insatisfação das principais empresas brasileiras do setor nos últimos anos. Não à toa, no mês de janeiro deste ano a empresa Fibria, maior fabricante mundial de celulose de eucalipto, anunciou um aumento de preço de US$ 30 por tonelada em sua celulose, válido a partir de Fevereiro deste ano, sendo que o novo preço de venda para o mercado europeu ficou em US$ 710 por tonelada.
Seguindo a mesma linha, a Suzano Papel e Celulose, outra gigante do setor, também anunciou aumento do preço da celulose no início do ano, aumento esse válido para todos os mercados onde atua, atingindo os mesmos US$ 710 por tonelada no mercado europeu. Mais recentemente, a empresa anunciou outros três aumentos de preço, destacando entender que o momento é positivo para a recuperação da receita perdida no ano passado por várias razões, entre elas o ritmo de operação mais lento do que o esperado na primeira linha da OKI, a nova fábrica da Asia Pulp & Paper na Indonésia (com dois milhões de toneladas de capacidade produtiva, podendo chegar a 3,2 milhões segundo a empresa). Outras empresas de celulose no Brasil também anunciaram aumentos, como é praxe no mercado de celulose.
Aguardemos o resultado do próximo bimestre após o final de abril pra ver se os aumentos promovidos pelas empresas de celulose promoverão um equilíbrio entre o volume exportado e a receita. Afinal, as exportações de celulose – mesmo com um cenário recente de preços no mercado global desfavorável – respondem por 4,1% da pauta das exportações brasileiras. Além disso, o consumo de produtos derivados da celulose no mundo é crescente, ou seja, trata-se de uma commodity extremamente importante para a economia brasileira cujo potencial de crescimento é evidente.