Embora o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) ainda não tenha divulgado o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para 2016, já é amplamente sabido que a previsão do mercado é de um tombo próximo a 3,5%, levando o país a atingir uma marca vexatória: pela primeira vez desde o início da série histórica oficial do IBGE, em 1948, o Brasil registrará dois anos seguidos de retração.
A inflação brasileira em 2016 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, IPCA), foi de 6,29%, índice superior à meta estabelecida pelo Banco Central (4,5%), porém inferior ao teto de 6,5% e significativamente menor que a inflação registrada em 2015 (10,67%). Embora a redução da inflação possa parecer positiva em uma primeira análise, ela resulta da política monetária adotada pelo governo brasileiro, que promoveu o aumento da taxa de juros e a consequente retração da atividade econômica que afeta o crédito, o consumo e os investimentos.
Tanto a retração do PIB quanto a elevação da taxa de juros são indicativos de que a economia não vai bem, a sociedade está consumindo menos e os investimentos não estão acontecendo. Na indústria de base florestal esse cenário teve reflexos claramente dentro dos segmentos voltados ao mercado interno como, por exemplo, o setor de papel e embalagens. Conforme demonstra a Figura 01, em diferentes produtos analisados dentro deste segmento foi observada retração ou quase estagnação na produção, mantendo uma tendência negativa de dois anos.
Figura 01 – Evolução da produção de segmentos selecionados do setor florestal brasileiro (1.000 t)
Fonte: Ibá - * Painéis: venda doméstica em 1.000 m3
O segmento de painéis apresentou desempenho semelhante em relação à venda doméstica, que sofreu queda de 2,11% em 2016, resultado ruim, porém menos desolador que a queda observada entre 2014 e 2015, de 11,3%. Contudo, a retração promovida pela venda doméstica na produção brasileira de painéis de madeira foi compensada em certa forma pelo aumento de 64% na exportação, solução adotada por alguns dos grandes players deste segmento, desde 2015, para fugir das consequências da crise.
Se por um lado o cenário econômico brasileiro tenha causado estrago para alguns segmentos o ano que se passou foi relativamente positivo para os segmentos atrelados ao mercado externo. Na figura 02 é possível observar a evolução da exportação em três diferentes segmentos. O segmento de painéis de madeira teve um aumento expressivo de 641 mil m3 para 1,05 milhão de m3. O segmento de celulose teve um aumento de 8,1% na exportação e o segmento de papéis, um aumento de 2,2% na exportação.
Figura 02 – Evolução da exportação de segmentos selecionados no setor florestal brasileiro (1.000 t)
Fonte: Ibá - * 1.000 m3
Se os reflexos da crise econômica são nítidos nas indústrias florestais voltadas ao mercado interno e à retração no consumo, por outro lado, algumas empresas atreladas aos segmentos ilustrados na figura 02 nos trouxeram notícias consoladoras para 2016. A Fibria, por exemplo, maior produtor nacional de celulose de eucalipto, anunciou recentemente que seu volume de vendas em 2016 foi 8% maior que o ano anterior, desempenho puxado, sobretudo, pela demanda asiática e por um bem vindo aumento de preços na Ásia e, no início de 2017, na América do Norte e Europa. O maior volume de vendas auxiliou a empresa a compensar parcialmente a desvalorização do dólar em relação ao ano de 2015.
A Klabin, outra gigante dos segmentos de celulose e papel, anunciou também crescimento de 45% no volume de vendas e de 16% no EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) em relação a 2015, sendo que um dos principais propulsores deste crescimento foi justamente a venda para o mercado externo.
A Forest2Market do Brasil acredita que em 2017 haverá uma expansão modesta do PIB (em relação o ano de 2016) guiada pela redução da taxa de juros prometida pelo governo, pelo aumento do nível de consumo interno no país e por uma maior produção industrial. Tal expansão não deve ser suficiente para criar impactos significativos às indústrias de base florestal, porém espera-se que seja o início de uma recuperação econômica que deverá se consolidar em 2018, mas que depende preponderantemente do cenário político brasileiro nas eleições federais do mesmo ano para se tornar realidade.