No primeiro de uma série de dois artigos será abordado um problema tido como inevitável para o mercado norte-americano e que poderá ter efeito sobre o mercado brasileiro: uma significativa escassez de madeira serrada que deverá ser enfrentada em médio prazo se o mercado de construção de casas continuar sua lenta, mas positiva recuperação. Essa escassez de suprimento é gerada pelos efeitos cumulativos de diferentes fatores de mercado, os quais serão examinados nos dois artigos.
Enquanto as indústrias florestais dos Estados Unidos continuam a se adaptar às novas tarifas na madeira serrada canadense, uma série de fatores que podem impactar significativamente o mercado de construção de casas serão percebidos nos próximos meses e anos. Apesar da resiliência que o setor vem demonstrando desde o auge da última crise, em 2009, um apagão no suprimento de madeira serrada ameaça a indústria de construção de casas dos EUA. Se o setor deseja continuar a recuperação sustentável apresentada em 2016 esse problema deve ser enfrentado o quanto antes se o mercado deseja.
O passado recente
O número de housing starts (construção de novas residências – um dos principais indicadores de consumo de matéria prima florestal nos Estados Unidos) em 2016 totalizou 1,17 milhões de unidades – um crescimento de 5% em relação a 2015 – fazendo esse ano o melhor desde 2007 para o setor. Para chegar nesse numero o mercado de casas consumiu cerca de 120 milhões de metros cúbicos em madeira serrada e desse total os EUA produziram aproximadamente 80 milhões de metros cúbicos enquanto que a madeira importada – principalmente do Canadá – foi responsável por 40 milhões de metros cúbicos.
O consumo de madeira cresceu 10 % entre 2015 e 2016. Enquanto a produção interna dos EUA cresceu somente 3,4% a produção do Canadá subiu em 6%. Com base nesses números é evidente que o Canadá movimentou bastante madeira entre a fronteira em 2016.
O futuro próximo
Para 2018 a Forest2Markret está prognosticando um número conservador de housing starts, na casa de 1,3 milhões (4,2% de aumento em relação a 2017). A demanda projetada de madeira em 2018 irá atingir 120 milhões de metros cúbicos e as importações canadenses deverão ser bastante mais baixas nos próximos meses do que foram em 2016, o que irá criar escassez no mercado. Se as importações canadenses cobrirem somente 25% da demanda em 2018 (28 milhões de metros cúbicos), os EUA e outros fornecedores terão que cobrir a diferença (cerca de 92 milhões de metros cúbicos).
Com base nos dados de 2016, essa equação leva à uma lacuna de aproximadamente 14 milhões de metros cúbicos, o que representa um aumento de 18% em relação à produção total de 2016 e é 12% da demanda prevista para 2018. Qual será a origem deste fornecimento adicional? Quem irá preencher essa lacuna e como isso afetará os preços? Analisemos algumas opções:
- O Noroeste do Pacífico, tradicional região madeireira dos EUA, parece que não ajudará a resolver o problema. Atualmente existe pouca flexibilidade para os produtores da região em aumentar a produção, devido à uma série de limitações, sobretudo relacionadas à taxa de colheita (as florestas produtivas da região são florestas nativas). No estado do Oregon, por exemplo, cerca de 2/3 das florestas são públicas e existem poucas razões para acreditar que o clima político e social que levou à uma redução significativa nas taxas de colheita na década de 90 iria mudar.
- As importações da Columbia Britânica (província mais ocidental do Canadá, outra importante região de produção madeireira) para os EUA cresceram 25% em 2016 e a produção do Canadá para o ano cresceu em 6% - quase o dobro do crescimento dos produtores americanos. A região apresentou um ligeiro aumento de produção embora seja uma questão de tempo até que a região tenha declínio na produção causado pela falta de toras oriundas das florestas afetadas pelo besouro (mountain pine beetle). Mesmo sabendo que a política de colheita florestal do governo canadense incentive a produção florestal e o emprego, uma perda substancial de volume e o declínio na taxa de colheita será um desafio é tido como certo.
- Atualmente, as importações de madeira serrada dos países bálticos e da América do Sul são limitadas. Porém, na onda de uma série de esforços regionais, várias empresas da Escandinávia vêm se tornando mais competitivas globalmente. Com uma demanda forte e suprimento baixo o cenário é favorável aos players internacionais, incluindo Brasil e Chile. Os produtores da América do Sul e dos países bálticos tem uma oportunidade real de entrar no mercado norte-americano de forma mais confiante nos próximos anos considerando o impacto da redução das importações canadenses.
- Analisando especificamente a situação do Brasil, o país exportou cerca de 250 mil metros cúbicos de madeira serrada de pinus para os Estados Unidos em 2016. Se considerarmos a exportação de madeira serrada, perfilada e portas de madeira, o Brasil exportou 300 mil metros cúbicos para os EUA, o que representa cerca de somente 2% da lacuna americana em 2018. Mesmo se considerarmos o direcionamento de toda a madeira serrada exportada pelo Brasil para os EUA, o total não ultrapassa 20% da demanda americana. A oportunidade existe, mas o Brasil terá que aumentar significativamente sua produção para o mercado externo.
- A produção do Pinho amarelo do sul no sul dos EUA ultrapassou a produção regional do Nordeste do Pacífico. As empresas canadenses que controlam cerca de 1/3 do mercado de softwood têm a capacidade de aumentar a produção para tirar vantagens da quantidade e preços relativamente baratos de toras de pinus para serraria no sul dos EUA. Baseado na capacidade de produção de madeira serrada de pinho amarelo na região, uma parte da lacuna deverá ser preenchida pelas serrarias no sul dos EUA, no curto prazo.
No próximo artigo será abordada a dinâmica de fatores que cercam o problema do “apagão” que se aproxima.