Segundo Jerry Howard, CEO da National Association of Home Builders (NAHB), a preocupação relacionada ao suprimento (e preço) da madeira serrada nos Estados Unidos, decorrente do desentendimento com seu principal fornecedor, o Canadá, irá persistir por vários anos, abrindo oportunidades para importações de madeira vindas do Chile e do Brasil.
A NAHB é uma associação norte-americana que possui mais de 140 mil membros e tem o objetivo de defender os interesses do setor de construção de casas nos Estados Unidos. A existência de uma associação dessa escala, exclusivamente voltada a representar o setor de construções de casas, se explica pela relação cultural que a sociedade norte-americana possui com a moradia em casas em detrimento de, por exemplo, apartamentos. Essa relação é muito mais expressiva do que se vê em qualquer outro país e, ao contrário do padrão de construção de casas brasileiro, os Estados Unidos utilizam a madeira como principal insumo construtivo.
“Acredito que irá levar quatro a cinco anos para chegarmos à uma resolução para o Softwood Lumber Agreement (SLA) – disse Jerry Howard em uma palestra realizada recentemente para uma associação no Estado da Flórida. O SLA era um acordo de comércio existente entre o Canadá e os Estados Unidos, criado para compensar o subsídio recebido pela indústria madeireira canadense do governo. Como grande parte das propriedades produtivas está na mão dos governos das províncias locais, o valor da madeira em pé é definido administrativamente e não com base no mercado e, segundo os Estados Unidos, isso cria uma concorrência desleal entre a madeira serrada canadense e a norte-americana.
O acordo entre os dois países terminou em 2015 e teve seus efeitos de certa forma prorrogados por mais um ano. Embora a situação atual seja incerta, se espera um aumento de preços de 30% a ser percebido ainda 2017. Enquanto isso não ocorre, segundo Howard “construtores de casas estão dizendo que têm encontrado problemas em conseguir compromissos futuros de entrega de cargas de madeira”.
O problema com o término do acordo é bastante relevante para o mercado de casas dos Estados Unidos, pois a madeira canadense responde por 28% da madeira utilizada na estrutura de novas casas no país. Somada à incerteza natural do mercado pelo término do acordo está o perfil da nova administração federal americana, que tende a ser extremamente protecionista com o mercado interno, o que significará, nas palavras do CEO, “uma longa luta”.
A solução preferencial para garantir um suprimento confiável a preços constantes seria modificar a regulação da quantidade de madeira que pode ser extraída das florestas americanas. Porém, seria muito difícil para o parlamento americano alterar a legislação de modo a aumentar o nível de exploração para a quantidade de florestas que deveria ser adicionada para reduzir as importações canadenses.
Mas Howard se mostrou cético em relação a um novo acordo ou ao aumento da exploração das florestas nacionais e, em nome da associação, já busca alternativas. Em 2016 ele passou 10 dias visitando políticos e indústrias no Chile. “Eles estão muito interessados em produzir madeira serrada para atender aos padrões dos EUA, se tornando assim uma solução permanente para a madeira serrada canadense”. Isso pode levar talvez quatro a cinco anos, mas considerando que o impasse com o Canadá também não terá solução no curto prazo, “o Chile aparece como uma alternativa viável”, segundo o presidente da NAHB.
Por fim, Jerry Howard destacou que em 2017 pretende conhecer e visitar o Brasil, para entender se a solução para o mercado norte-americano de construção de casas pode estar no maior país da América Latina. O interesse dos Estados Unidos vem em um momento interessante, pois com a crise econômica interna dos últimos anos diferentes empresas passaram a olhar o mercado externo e a aprender como exportar. Em 2016 o Brasil exportou 2,7 milhões de m3 de madeira serrada de pinus (incluindo molduras), sendo que o principal país comprador da madeira serrada brasileira foi justamente os Estados Unidos, com 42,3%, seguido por China e Arábia Saudita, com 12,8% e 6,77%, respectivamente.