Na segunda semana de abril participei na segunda e terça-feira do 18º Seminário de Colheita e Transporte de Madeira, realizado em Ribeirão Preto, São Paulo. O seminário é um dos dois eventos técnicos que antecederam a realização da Expoforest 2018, maior feira florestal da América Latina, a qual visitei em seu primeiro dia, quarta-feira.
Eu poderia começar esse texto reclamando que na minha ida, segunda-feira cedo, um voo atrasou mais de uma hora, o que me fez perder a conexão. O segundo, foi cancelado sem nenhuma razão aparente ou explicação razoável ao cliente. Poderia reclamar que eu tive que ir de ônibus no trecho Campinas – Ribeirão, chegando no meu destino dez horas após o previsto. Poderia também lamentar o fato de que esse atraso me fez perder duas reuniões importantíssimas que teria durante o evento. Ou poderia dizer que o voo de retorno atrasou da mesma forma, me fazendo perder novamente a conexão em Campinas e me obrigando a pernoitar na cidade. Poderia ainda dizer que a empresa aérea “Amarela” (nome fictício criado para não prejudicar a imagem de ninguém) se limitou a alegar “problemas técnicos” e achar tudo normal.
Poderia, mas não vou.
Esse texto não é sobre a falta de infra-estrutura, não é sobre a falta de um bom customer-service, não é sobre a falta de respeito ou sobre tantos outros problemas de nosso país que tanto me atrapalharam nesta viagem. Esse texto é, na verdade, sobre o que aconteceu nos outros dois terços da viagem, no seminário e na feira. Esse texto é sobre o outro lado do país, aquele que funciona e nos traz esperança de um futuro melhor.
Durante toda a terça-feira que estive no seminário, em meio a um estado de embriaguez causado por excelentes conversas com clientes, colegas e amigos, em um ambiente organizado e agradável, dentro de uma cidade muito bonita, me peguei pensando se eu estava realmente no Brasil. Participava de um evento técnico cujo nível de organização ultrapassou outros vários eventos de primeira linha em que já estive fora do país. Com um detalhe: mais de 800 pessoas presentes no conjunto dos dois eventos realizados nos dois dias.
Na quarta-feira, saímos cedo de Ribeirão Preto com destino à feira, realizada em uma fazenda, a cerca de quarenta quilômetros, de propriedade da International Paper. A Expoforest é uma feira dinâmica, onde os stands que estamos acostumados a visitar em feiras tradicionais são substituídos por clareiras abertas em meio a um plantio de eucalipto onde máquinas de colheita, transporte e beneficiamento da mais avançada tecnologia operam ao ar livre. Obviamente, os stands também estão lá (imensos, por sinal), com uma série de atrativos, tecnologia, brindes e muita água gelada para os visitantes - afinal, feira florestal no Brasil é debaixo de um sol de 40 graus.
Na última edição da Expoforest, realizada em 2014 em Mogi Guaçu, SP, levei o CEO da Forest2Market, Pete Stewart, pela primeira vez no evento. Confesso que tinha um pouco de receio em mostrar um evento tupiniquim para o “gringo”, pois já passei muita vergonha levando-o para cima e para baixo em nosso país em meio a aeroportos sem infraestrutura, rodovias esburacadas ou bloqueadas por protestos, violência, desrespeito, cerveja quente, enfim... nada daquilo que queremos para nosso país. Porém, tanto em 2014 quanto na edição atual o que senti ao adentrar na feira foi um tapa na cara de pujança, organização e desenvolvimento do setor florestal brasileiro. Um ar de otimismo, alegria e força de vontade contagioso!
Logo na entrada tivemos uma recepção de gala feita pelos donos da casa, a equipe da International Paper, maior fabricante mundial de papel. Ao longo dos anos aprendi admirar a IP pois percebi que a amabilidade e eficiência de sua equipe não vem somente de cada colaborador, mas está no DNA da empresa. Entre tantos grandes nomes desta equipe, cito aqui seu diretor, Armando Santiago, e seu gerente Denis Carmanhani como representantes deste excelente modus operandi, refletido em toda sua equipe e suas ações.
O percurso de 4,4 quilômetros da feira poderia ter sido percorrido em menos de duas horas, afinal, engenheiro florestal anda rápido. No entanto, levamos o dia todo para vencer o trajeto, pois a cada passo parávamos para conversar com mais gente e visitar mais uma das empresas que são as engrenagens deste setor que responde por 6% do PIB industrial brasileiro e que gera mais de 4 milhões de empregos diretos e indiretos.
Em meio à reflexão daquilo que estava diante dos meus olhos, estufei o peito com orgulho ao ver o “gringo” ao meu lado boquiaberto, percebendo que o setor florestal brasileiro é diferente daquele país lá de fora e que não devemos nada para outros países, pois temos todas as condições para desenvolver um setor de ponta, de forma sustentável e com pouquíssima (ou nenhuma) ajuda governamental. De fato, o governo muitas vezes mais atrapalha que ajuda.
Saindo da feira e voltando à realidade do Brasil, me ocorreu escrever esse artigo, pois o que eu vi nessa semana é um retrato de como deveria ser nossa sociedade.
Não poderia finalizar o texto sem parabenizar efusivamente e demonstrar meu respeito à empresa responsável pela organização do evento, a Malinovski, na figura de seu diretor geral, Dr. Jorge Malinovski, do qual tive a honra de ser aluno na graduação, disciplina de Métodos Silviculturais (não fui um grande aluno, mas depois de 20 anos o Prof. Jorge não deve mais recordar este detalhe).
A Expoforest, como uma Copa do Mundo, ocorre de quatro em quatro anos e traz para o setor florestal o mesmo orgulho que a sociedade em geral sente quando nossa seleção entra em campo. Seria excelente se sentíssemos o mesmo ao andar em nossas cidades, rodovias e aeroportos, utilizar serviços públicos e privados, etc.
A Expoforest é o país que quero para o Brasil.